domingo, 21 de junho de 2015

Solstício ou o gnac do Marcovaldo

Algo muito interessante da vida no Canadá é a possibilidade de observar e viver o ambiente, as mudanças de temperatura, a cor das folhas das árvores, a migração dos pássaros e as diferenças nada sutis entre as  estações do ano.

Aqui, nao conseguimos ficar imunes à tanta natureza, aos incontáveis lagos, aos animais que povoavam nossa infância tropical pelos desenhos animados. Não imagino qual será minha reação quando me deparar com um urso: serei uma urbanóide  histérica? ou uma kamikaze que sairá correndo para abraçar o Zé Colméia??

Por enquanto, minhas aventuras no norte gelado estão mais contidas, e minhas observações bem protegidas pela altura do prédio onde moro.

Da janela de casa, só observo...

Da janela do apartamento em março.

 Em março, outra vista.
Em junho, detalhe da sombra "andante" do prédio.

Há aproximadamente dois meses, os dias começaram a alongar-se, uma alegria instantânea por sair do trabalho com um sol brilhando no nosso rosto, as bicicletas multiplicando-se a cada dia pelas ruas, as folhas das árvores brotando. Bem, as folhas parecem que explodem, pois em menos de uma semana o que era um galho seco, torna-se uma copa verde. Os pássaros voltam do sul e  acabaram com a monopolização dos corvos, tudo ficou menos lúgubre. A euforia não persistiu, resultado de noites insones e manhãs sonolentas. 

O sol da meia noite em Yellowknife.


Como acontece com Marcovaldo e o infame gnac, as noites foram ficando iluminadas, mas diferente do meu personagem favorito cujas noites duravam 20 segundos (capitulo 14 -verāo) minhas noites foram embora, o meu gnac não apaga após 20 segundos. 
- Onde estarão as estrelas? A que horas os pássaros dormem? Como os vampiros sobrevivem? 

Perguntas que tiram meu sono nestes dias que não acabam, ou melhor, que não apagam.



As duas e trinta da manhã, ouvindo os sabiás, pelo menos descobri a hora que eles acordam.

Felizmente hoje é o dia mais longo do ano, solstício, inicio do verão no hemisfério norte. Os dias voltarão a ter noites, eu voltarei a admirar as estrelas, e meu gnac irá eventualmente apagar-se! 
Triste pelos sabiás que migrarão para o sul, esperta pelos vampiros que circularão pela noite escura.

Mais sobre gnac ou Marcovaldo neste livro, capitulo 14 -  a Lua e o gnac, coincidentemente o capitulo relata o verão.




domingo, 7 de junho de 2015

Pequenas alegrias diárias

Estar em um lugar tão isolado, com extremos geográficos que pareciam tão distantes da minha vida, em alguns momentos carrega a saudade de lugares e pessoas queridas. Para amenizar, encontro em pequenas alegrias diárias, distração e contentamento.

Morar a dez minutos de caminhada do escritório, é um luxo que jamais tive. Para completar, meu escritório tem o melhor café da cidade, cafe orgânico e "fair trade" extraído nesta maquininha:



Falando em coisas matinais, tem algo mais incrível que tomar café da manhã ouvindo sabiás? Sim, temos sabiás em Yellowknife, quase chorei quando ouvi os primeiros cantos do meu pássaro favorito. Pensei que estava na Redenção.

Encontre o sabiá na foto.


Falando em coisas gaúchas, encontrar cuia para vender...e no modelo brasileiro? Nem em Montreal temos cuias gaúchas para vender, quando muito os modelos uruguaios/argentinos. Mas aqui não, temos a legítima cuia gaudéria. As caixinhas são de cha mate, não encontrei erva mate (ainda).

Seriam as  castelhanas as mais populares?

Falando em castelhano,  outro dia de extrema emoção, foi quando encontrei um livro de um dos meus autores favoritos, o cubano-italiano Italo Calvino, detalhe: em português e um dos qua não havia lido ainda  :-)

Emoções literarias, fazendo companhia para o Marcovaldo.

Estar em um lugar com tantos lagos traz paz e possibilidades, outra pequena (às vezes grande) alegria diária. A temporada de esportes aquáticos está aberta, aproveite enquanto o gelo não volta.

Caiaques, canoas, pequenos navegantes.


O extremo da experiência de viver em Yellowknife, morar em uma casa-barco totalmente autônoma. Por enquanto me contento em vê-las da margem, eu e as gaivotas. 


A paisagem horizontal inicial.

A alegria diária antes do sono, alimenta meus sonhos. A vista daqui de casa, esperando o solstício.

 6 de junho, 11 da noite.

 Dia 6 de junho, entre 11 da noite e meia noite e meia, um espetáculo de cores no céu. Em um momento parecia haver dois sóis, alegrias horizontais.

Uma aurora boreal de verão?


 Poderia ser um temporal..

E o sol parece que jamais se  esconderá, ele tornou-se meu GNAC que me distrai do sono.